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Exposição 'Montado-geografia em mutação-VI acto', de Bruno Melo, no Museu da Luz
18-10-2024
Exposição

A exposição Montado - geografia em mutação - VI acto, projeto artístico de Bruno Melo, inaugura no Museu da Luz, concelho de Mourão, no próximo dia 25 de outubro, às 16h00, e ficará patente ao público até dia 5 de janeiro de 2025.


Este projeto artístico e de investigação começou a ganhar corpo em 2022, após vários anos de visitas, permanências e envolvimento no tecido humano, especialmente no território de Mourão-Barrancos. Foi já apresentado em 2023 e 2024, em duas exposições individuais na Galeria Quadras Soltas no Porto.

A exibição no Museu da Luz conta com o apoio de: EDIA - Museu da Luz, CCDR Alentejo, I.P., Parque de Natureza de Noudar, Município de Barrancos, Ass. Cultural Quadras Soltas, Teatro Palmilha Dentada e CCBombarda.



Montado - geografia em mutação

Projeto artístico de Bruno Melo



O Montado é por definição um sistema que associa uma utilização florestal do solo com outra de utilização de natureza agrícola e/ou pastoril. A sua ocupação territorial estende-se de forma descontinua e com distintas escalas de Sul a Norte do país principalmente ao longo da fronteira Luso-Espanhola.
Os montados são, no entanto, e ainda a referência de imagem assimilada das paisagens do sul do país e assumem-se como a maior mancha da mesma tipologia em Portugal. Neste território desenvolvem-se também diferentes formas de agregação populacional, desde o isolamento dos montes alentejanos na imensidão das herdades, aos aglomerados urbanos em cidades, vilas e aldeias, também elas distantes entre si. Todas estas especificidades originam também vivências sociais e territoriais particulares que também elas têm apresentado uma mutação de ocupação e estrutura.

Num tempo em que a polarização de conceitos se acentua (rural/urbano, liberalismo/socialismo, sustentabilidade/produção em massa, ecologia/aquecimento global, lucro/prejuízo, litoral/interior, silêncio/ruído), o Montado surge como grande chão caminhável e fonte de recursos, uma geografia em mutação e palco para todas estas discussões. A sua descentralidade torna-o, no entanto, num palco de ensaio e não de discussão pública e democrática.

O "Montado - geografia em mutação" é um projeto artístico e de investigação que começa a ganhar corpo em 2022 após vários anos de visitas, permanências e envolvimento no tecido humano, especialmente no território de Mourão-Barrancos.
Estas visitas e este envolvimento com o território começam com um carácter lúdico, de ócio e de retiro de um quotidiano urbano. Justifico, porque foi a partir desse ócio, dessa disponibilidade, que houve espaço para olhar, ouvir, cheirar, saborear, contemplar, questionar, uma nova realidade para mim. A rotina de pelo menos uma visita anual ao longo de uma década, a apropriação deste território multidimensional, leva-me a ficar curioso e a levantar várias questões, sobre o que é viver este e neste território, os seus desafios e as alterações de narrativas de vida que se constroem. É desta experiência da realidade que nasce a vontade deste projeto de investigação. Neste momento não sei se há conclusões possíveis. Do percurso feito até agora tenho a felicidade de encontrar mais questões do que respostas fechadas, diferentes narrativas que contam distintas verdades aparentemente sobre a mesma realidade.
Neste momento, a investigação aparenta a construção de uma espiral, percecionar uma realidade, discuti-la, produzir obra e apresentá-la. Dessa exposição nascem novas perceções e novas questões que reiniciam e ampliam ciclos de criação e produção de um corpo de obra teórico e material. A obra visual materializada em pintura e fotografia e a palavra registada de forma escrita e sonora, são as partes que formam este corpo de investigação em construção.

Neste território concetual é pertinente o recurso à expressão artística enquanto meio de comunicação, com o seu processo de contemplação, de análise e de projeção, que regista as narrativas de uma memória histórica e escuta os anseios e as propostas das novas narrativas em construção. Desta forma estaremos a abrir espaços de questionamento e pontos de encontro para o debate de ideias, para a integração de diferentes verdades, num ensaio de preposição final, performativa e não deliberativa.

Uma interrogação das tantas que se me levantaram nesta investigação é a de que olhar trazia eu como observador. Conseguirei eu libertar-me das minhas idiossincrasias culturais, urbanas, geográficas, sociais, na minha perceção da realidade que me proponho estudar e até nas conclusões ou considerações que irei fazer? Um dos primeiros preconceitos de que me dei conta que transportava em mim era o da romantização da ruralidade de alguém urbano. A perceção quase do belo que eu tinha do silêncio, dos amplos espaços, da baixa demografia, da ausência do supérfluo são em muitos casos a dificuldade, a falta de oportunidades e de acessos múltiplos, a castração de quem vive no meio rural. Mas também percebi que são a razão de uma identidade e de uma forma de ser e estar distinta da urbana. E esta forma diversa muitas vezes não é reconhecida (principalmente por desconhecimento e falta de experimentação) por urbanitas, o que nos leva a impor imbecilidades legais, estratégicas, de definição cultural, de modos de vida.

Além da década de plantação que me trouxe até aqui, esta investigação passou já por cinco momentos formais relevantes, três residências artísticas e duas exposições, que me trazem até este "VI acto".




Biografia - Bruno Melo

Bruno Melo
Artista plástico e arquiteto.
Vive atualmente no Porto, onde nasceu em 1978.

Consciente da sua condição de homem, crioulo indo-português, educado numa sociedade ocidental e de raiz cristã, procura materializar com diferentes formas de expressão plástica as suas interrogações sobre o quotidiano. Sempre partindo de uma dúvida, discussão ou perceção da realidade, constrói diferentes narrativas que não se fecham em si mesmas, mas estendem dimensões na interação com o público.

Faz o ensino básico na Coop. Artística Árvore, onde se inicia em expressão plástica e dramática e estuda Cinema de Animação com Abi Feijó. Participou na realização do filme "Les Variétes" com Bretislav Pojar e Kihachiro Kawamoto no Atelier de Animação de Annecy.
Inicia o seu processo de estudo consciente da arte, no Atelier de Macedónia Freitas Pereira, em 1994. Este é um ponto de viragem no seu crescimento, na consciência do Eu e do Mundo. Em 1999, juntamente com Paulo Sobreira e Pedro Cruz expõem no Aeroporto do Porto, o projeto "Mãe! Há mundo para além da Trafaria?".

Licenciou-se em Arquitetura em 2001 na Universidade Lusíada do Porto.
Em 2002 foi bolseiro no atelier RCR-Aranda Pigem Vilalta, Olot-Girona. Em Portugal trabalhou em 3 Ateliers e em 2007 abriu o seu próprio estúdio "Not a Box, Lda".

Participou e participa em vários coletivos e projetos de voluntariado: Abraço; ILGA-Portugal; FAVA-Leigos Dominicanos para o Desenvolvimento Social; Artistas Anónimos.

Em 2021 monta o seu Atelier de Pintura no Quarteirão das Artes, na Rua Miguel Bombarda no Porto.
Em 2022 apresenta a exposição "O Gesto como Oração" no CCBombarda, no Porto. Ainda em 2022, participa em várias mostras coletivas que levam o seu trabalho a Lisboa, Guimarães, Mirandela e Oliveira de Azeméis.
Em 2023 apresenta a exposição "Bosques" no CCBombarda, no Porto.
Em 2023 arranca com Projeto Artístico "O Montado - Geografia em Mutação". Neste âmbito, fez 3 residências artísticas, no Parque de Natureza de Noudar, Barrancos e no Monte dos Pássaros-Museu da Luz, Luz-Mourão. Este projeto é apoiado pela EDIA, Museu da Luz, CCDR Alentejo, I.P., Parque de Natureza de Noudar, Município de Barrancos, Ass. Cultural Quadras Soltas, Teatro Palmilha Dentada e CCBombarda.
Este projeto foi já apresentado em 2023 e 2024, materializado em duas exposições individuais na Galeria Quadras Soltas no Porto.
Em 2024 lança o projeto da Galeria Bombarda Showcase onde é o programador.

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